Rádio Rhema Online

sexta-feira, 26 de julho de 2013

SOBRE CORDEIROS, PORCOS E LOBOS...


(Apólogo)

Conta-se uma história de certo Leão que surgindo nas terras áridas da Judeia começou a arrebanhar ovelhas desgarradas.

Como fosse algo um tanto quanto incomum, os animais daquelas terras concluíram que a ousadia do atrevido Leão poderia desencadear uma possível rebelião entre os animais dominantes da região – dentre os quais os temidos Lobos. Havia ainda os Porcos: gordos e sujos, desprezíveis e nada amistosos.

Mas, o Leão, decidido que estava, persistiu em sua empreitada, disposto inclusive – e se necessário fosse –, defender até à morte aquelas ovelhas que a ele se achegasse.

Certo dia, um dos maiorais entre os Burros chegou-se ao Leão indagando-o sobre a possibilidade de tomar parte no seu curral – ainda que burros e ovelhas não se misturassem. O Leão de pronto respondeu que sim, sendo-lhe, porém, necessário “nascer de novo”.

Ignorante como uma Mula, o Burro retrucou sobre o significado daquelas palavras: “como seria possível a um burro velho nascer de novo. Por ventura retornaria às entranhas de uma égua e nasceria outra vez?”.

O Leão, que até então não havia se declarado Rei, revelou ao amigo equino que, em seu reino, todo animal lavado no sangue de um cordeiro imaculado perderia a velha natureza e se tornaria uma nova criatura: um genuíno cordeiro. Se bem que para um Burro aquilo não fosse simples de se entender.

Ainda duvidoso das palavras do Leão, o Burro se foi, esperando o dia em que, de alguma forma, aquilo pudesse ser concretizar, ainda que aparentemente lhe soasse impossível. Diz-se que pastava sempre nas cercanias do Leão, seguindo-o de longe, sem dar a saber aos demais animais que lhe fosse simpático.

Tempos depois, alguns Lobos, chefes de grandes matilhas decidiram denunciar as obras do Leão à Dona Raposa – que naqueles dias era quem governava. Estes, seduzidos pela velha Serpente e mancomunados com Hienas zombeteiras, Traíras mentirosas e outras Bestas feras, deliberaram matar o Leão, acusando-o falsamente de proferir palavras enganadoras e de sublevação contra a Grande Loba – dominadora de todas as províncias daquela terra –, e contra o Espírito Criador de todo o Reino Animal.

Temerosos de que pudesse fugir ou mesmo reagir à captura, os Lobos e seus asseclas cooptaram um dos seguidores do Grande Leão, o qual se tratava, na verdade, de lobo em pele de cordeiro, para que este conduzisse uma matilha de cães ferozes a fim de assegurar o logro da emboscada.

O Leão bem poderia ter reagido e derrotado seus captores apenas com o calor do seu rugido, mas não abriu a sua boca. Ele mesmo havia ensinado as suas ovelhas a lição acerca do dia no qual o Leão seria entregue como um “Cordeiro mudo ao matadouro” a fim de ser morto e com seu sangue remir e transformar todo animal – por mais imundo que fosse – em uma alva e preciosa ovelha. Também garantiu que ao terceiro dia ressurgiria, vivo, imbatível, para comprar e resgatar todos os seres de terra que, lavados no seu sangue confessassem o Seu Nome.

É sabido que muitos porcos foram transformados em ovelhas, testificando acerca do Leão e do seu poder a todos os seres das terras circunvizinhas, sendo, por isto, torturados e martirizados, sem, contudo, negar a Fé no Cordeiro de Deus – como ficou conhecido o Rei Leão.

Alguns até testemunharam em seu Nome, mas, mesmo após haver passado pelo processo de limpeza retornaram ao espojadouro de lama; outros, que nunca foram lavados ou transformados, ainda sobrevivem entre as ovelhas comendo aqui e ali todo tipo de sujeira que lhes são lançadas – de alfarrobas à “lavagem”. Ainda assim, o Rei Leão mantém abertas as portas de seu curral na esperança de que não apenas os porcos, mas, outras animálias do campo sejam transformadas pelo Poder de Seu Sangue.

Há, também, os lobos, os quais, disfarçados de ovelhas insistem em se infiltrar no curral. São astutos e cruéis devoradores, andando sempre em matilhas e nunca se submetendo à autoridade do Leão. Ao estrugir de Sua voz, porém, correm como cães medrosos com os rabos entre as pernas, deixando para trás de si as peles de suas vítimas.

Às suas ovelhas o Rei ordenou: “Ide; eis que vos mando como cordeiros ao meio de lobos”; mas advertiu: “Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem”; “acautelai-vos daqueles que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores.”.

“Eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém.

Prossigo para o Alvo... Fp. 3.14


PS: Nos evangelhos encontramos várias passagens nas quais os ensinamentos de Jesus foram transmitidos aos discípulos através de alegorias, comparações ou analogias: as chamadas Parábolas.

Uma parábola é uma “narração alegórica que envolve algum preceito de moral, alguma verdade importante”¹ ou “narrativa curta que, mediante o emprego de linguagem figurada, transmite um conteúdo moral”², quase sempre protagonizada por pessoas ou seres humanos.

Já o Apólogo, diferentemente da parábola, se perfaz da “narrativa que busca ilustrar lições de sabedoria ou ética, através do uso de personalidades de índole diversa, imaginárias ou reais, com personagens inanimados ou não humanos”³.

¹ Dicionário Priberam da Língua Portuguesa;
² Wikipédia, a enciclopédia livre;
³ idem.



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