Lendo esta semana, via Facebook, um comentário no perfil da amiga Rô Moreira – Calvinista
convicta –, senti-me inquieto e impelido à responder ali de bate pronto àquilo que considerei uma "ofensa" à boa reputação de umas centenas de irmãos pios e honrados que conheço, cuja Fé - a despeito de não serem Calvinistas - está alicerçada na Inerrante Palavra de Deus, e cuja Salvação está garantida na expiação vicária de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Mas, em apreço aos conselhos de Salomão: "O homem se alegra em responder bem, e quão boa é a palavra dita a seu
tempo!” (Pv 15.23), preferi pedir autorização à nossa amiga, para só então refutá-la pontual, respeitosa e
cordialmente; o que ela generosamente consentiu. É o que faço a seguir:
Dizia ela em seu post:
“Precisamos ser honestos conosco, pois aprendi debatendo com arminianos que eles têm problemas de caráter e idoneidade intelectual. Até aprendem, mas faltam-lhes (sic) humildade para reconhecer que estão errados. Quando argumentamos com a verdade, eles sem argumentos, se calam, ou se impõe à força autoritária, ou, desonestamente argumentam ironicamente e infantilmente.Noto isso nos arminianos todos! Teve um aqui, que queria provas, quando demos a resposta a ele de forma sensata e exegética, sabe o que ele disse? "Já tenho minha concepção".Faltam-lhes humildades para aceitar a verdade, tirar os óculos de suas tradições errôneas e aceitar de fato palavra de Deus. Bom dia.”
Ponto a ponto vejamos:
1) “Precisamos ser honestos
conosco...” – A amiga inicia seu pensamento sugerindo de maneira subjetiva
e espontânea (talvez até indesejada) que alguns Calvinistas costumam não ser muito
“honestos” – verdadeiros – quando o assunto é “Arminianos”. É
possível, até, que em “círculos mais íntimos” essa "honestidade" seja mais aberta (menos
velada), mas, não parece ser este um comportamento comum quando
do convívio com “irmãos Arminianos”. Tenho visto alhures, Calvinistas ilustres a dar "tapinhas nas costas" de Arminianos fervorosos, como bons e grandes amigos e irmãos em Cristo, como que "predestinados" ao mesmo Reino Celestial. Se a amiga Rô Moreira decidiu "rasgar o verbo" em vez de "rasgar a seda", tal atitude deve estar em consonância com as convicções e doutrinas que professa. É preciso coragem para assumir: “precisamos ser
honestos”. Aliás, já dizia Salomão: “O
lábio da verdade permanece para sempre, mas a língua da falsidade, dura por um
só momento”. (Pv 12.19);
2) “... pois aprendi debatendo com
arminianos...” – Neste ponto há também um aspecto importante a ser
considerado: tanto Calvinistas quanto Arminianos sempre estiveram abertos ao debate, o que em verdade é muito salutar para o "crescimento intelectual de ambos", do contrário a irmã Rô
não teria aprendido tanto – e nem eu. Espero que as conclusões da nossa irmã não limite o convívio e o contato com irmãos Arminianos, principalmente com aqueles que se dispõem a aprender - e até a ensinar;
3) “... que eles têm problemas de
caráter e idoneidade intelectual.” – Aqui começam o podemos chamar de "deslizes" da nossa
querida irmã. Preconizar de maneira tão enfática, genérica e até banal que Arminianos
“têm problemas de caráter e idoneidade intelectual”
me parece uma postura um tanto quanto preconceituosa, grosseira e eivada de
um rancor impróprio àqueles que foram alcançados (ou predestinados) pela Graça
de Nosso Senhor Jesus Cristo. Vejamos o que a Escritura nos diz a este respeito: “Mas tu, por que julgas teu irmão? Ou tu,
também, por que desprezas teu irmão? Pois todos havemos de comparecer ante o
tribunal de Cristo”. (Rm 14.10); ou: “Se
alguém entre vós cuida ser religioso, e não refreia a sua língua, antes engana
o seu coração, a religião desse é vã” (Tg 1.26); ou: “Aquele, pois, que cuida estar de pé, olhe não caia.” (1Co 10.12)
e, finalmente: “Há só um legislador que
pode salvar e destruir. Tu, porém, quem és, que julgas a outrem?” (Tiago
4:12);
4) “Até aprendem, mas faltam-lhes
(sic) humildade para reconhecer que estão errados.” – Como dissemos anteriormente,
de fato todos aprendem com o debate, “até Calvinistas aprendem” (vide tópico
2), e isso é muito bom! O contrassenso, porém, fica por conta do “até aprendem... mas... estão errados”. Ora,
como assim? Se aprendem – e eu acredito que aprendem – por que estão errados?
Ou deveriam reconhecer que estão errados, mesmo quando não convencidos disto, apenas
para satisfazer – num gesto unilateral de "humildade" – os anseios da outra parte...
De fato isso requereria uma boa dose de humildade. Daí, que, forçar alguém a se
curvar diante de ideias num debate ou admitir um “pseudo erro” sob o pretexto
de que não fazê-lo seria “falta de
humildade”, já é, a meu ver, muita presunção do debatedor (sin. arrogância; ant.
humildade). Neste caso, os “Calvinistas” poderiam começar nos ensinando pelo
exemplo. Vejamos o que nos diz a Escritura: “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um
considere os outros superiores a si mesmo.” (Fp 2:3); ou: “E como vós quereis que os homens vos façam,
da mesma maneira lhes fazei vós, também.” (Lc 6.31); “Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós
também.” (Jo 13.15);
5) “Quando argumentamos com a
verdade, eles sem argumentos, se calam, ou se impõe à força autoritária, ou,
desonestamente argumentam ironicamente e infantilmente.” – Verdade? Qual
verdade? Verdade de quem? Se falamos do Verbo Divino, ótimo! Ele mesmo diz: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida,
ninguém pode chegar até o Pai a não ser por mim” (Jo 14.6). Se falamos em
andar conforme seus ensinamentos e segundo a doutrina que foi confiada aos
apóstolos, ótimo também! Vejamos, por exemplo, como João exaltou a postura daqueles
que andavam e permaneciam na verdade: “Muito
me alegro por achar que alguns de teus filhos andam na verdade, assim como
temos recebido o mandamento do Pai.” (2Jo 4). No mesmo condão o apóstolo
segue tecendo elogios acerca do caráter “genuinamente verdadeiro” que abundou em
Gaio e Demétrio. A Diótrefes, por sua vez, restou a reprimenda: “trarei à memória as obras que ele faz,
proferindo contra nós palavras maliciosas” (3Jo 10). Mas, se falamos de
verdades fundamentadas em teses teológicas, filosóficas e humanas, então, temos
que admitir a possibilidade de distorções, erros, desvios, dos quais “todos”
precisamos declinar ante a Verdade das Escrituras. E até pode ser que alguns (não posso falar de
“todos”) “Arminianos” “se calem, ou se imponham de forma
autoritária, ou, desonestamente argumentem ironicamente e infantilmente”
contra “as verdades” Calvinistas, mas não é o que “tenho notado”, ouvido ou
lido por aí. Pelo contrário! Não são poucas as vezes que percebo tal comportamento na fala
de alguns (não de todos) Calvinistas. Mas e daí? Não somos todos nós, Calvinistas ou
Arminianos, Pentecostais ou Tradicionais, homens e mulheres imperfeitos,
pecadores, dependentes da Graça e da misericórdia do Eterno Deus? Ou não era
esta a Verdade ensinada pelo Apóstolo: “Porque
todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus... Nisto não há judeu nem
grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um
em Cristo Jesus.” (Gl 3.26, 28); ou: “Onde
não há grego, nem judeu, circuncisão, nem incircuncisão, bárbaro, cita, servo
ou livre; mas Cristo é tudo, e em todos.” (Cl 3.11); ou: “Porquanto não há diferença entre judeu e
grego; porque um mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o
invocam.” (Rm 10.12);
6) “Teve um aqui, que queria provas...”
– Provas do quê? De que Deus selecionou um grupo de homens e mulheres
informes (ainda antes de suas existências) para salvar e outro para arder no
inferno? Eu, sinceramente, também gostaria de tê-las. Gostaria que alguém me
apresentasse nominalmente o rol dos predestinados, a fim de que pudesse
contribuir com maior eficiência para o Reino de Deus, anunciando-lhes com mais
veemência a Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, em cumprimento ao seu “IDE”. Por
que fazê-lo às cegas, como quem “lança pérolas aos porcos”, se não sei quem
são, ou onde estão? Ou isso também seria um dos “desígnios” do Altíssimo? Este
não me parece ser o propósito de Deus com relação ao homem (quer para com os que se salvam, quer para com os que se perdem), se não, vejamos a Escritura: “Desejaria eu, de qualquer maneira, a morte do ímpio? diz o Senhor
DEUS; Não desejo eu, antes, que se converta dos seus caminhos, e viva
[eternamente]? (Ez 18.23); ou: “Porque
não tenho prazer na morte do que morre [eternamente], diz o Senhor DEUS;
convertei-vos, pois, e vivei.” (Ez 18.32); ou: “Dize-lhes: Vivo eu, diz o Senhor DEUS, que não tenho prazer na morte
do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho, e viva.” (Ez
33.11); ou: “Arrependei-vos, pois, e
convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham assim os
tempos do refrigério pela presença do Senhor” (At 3.19); ou: “Mas
Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os
homens, e em todo o lugar, que se arrependam.” (At 17.30); ou: “O Senhor não retarda a sua promessa, ainda
que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para conosco, não querendo que
alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se.” (2 Pe 3.9);
7) “... quando demos a resposta a
ele de forma sensata e exegética...” –
De acordo com o léxico a expressão "de forma sensata e exegética" pode ser lida como “resposta criteriosa” e “fundamentada na
interpretação textual”. Ai eu pergunto: Sobre quais critérios ou métodos?
Alegóricos, Literais, Tipológicos, Histórico-culturais, Principiológicos? E sobre quais fundamentos? Apóstólicos,
Clericais, Tradicionais Calvinistas? Seriam os Arminianos os únicos “míopes” a
fazerem uso dos “óculos da tradição” ante a Inerrante Palavra de Deus? Falaremos disto no tópico 9.
8) “Faltam-lhes (sic) humildades
para aceitar a verdade...” – Sobre humildade e verdade acredito já termos
discorrido um pouco, embora me pareça
que este seja um tema capital – dada a redundância – para nossa irmã: que
“todos” os Arminianos com “problemas de
caráter e idoneidade intelectual” se curvem ante a indiscutível,
insofismável, irrefutável "verdade" Calvinista, de que: “Deus predestinou Calvinistas
para o Seu Reino Eterno, ao passo que aos Arminianos reservou as Trevas
Exteriores”, não obstante não tê-los citado nas Revelações: “Mas, quanto aos tímidos, e aos incrédulos,
e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos que se prostituem, e aos feiticeiros,
e aos idólatras e a todos os mentirosos, a sua parte será no lago que arde com
fogo e enxofre; o que é a segunda morte.” (Ap 21.8). Não vejo aqui alusão a Arminianos ou a Calvinistas... Glória a Deus!
9) “... tirar os óculos de suas
tradições errôneas” – Pelas barbas de Calvino! Quem mais que os Calvinistas
vêm ao longo das eras se mantendo sobre as Tradições da Reforma “à ótica de
Calvino”. Eis como define o Calvinismo o calvinista – com perdão da redundância
– Clóvis Gonçalves, ao escrever para o Blog Teologia Pentecostal, editado pelo
amigo Gutierrez Siqueira: “O calvinismo é a tradição doutrinária associada
ao reformador João Calvino (1509-1564), que forma a base teológica de
igrejas reformadas e presbiterianas...” (grifos nossos). Ora, quiçá sejam de
todo verdadeiras essas tradições; mas, daí a reduzir a pó todo e qualquer
entendimento “contrário”, seria, a meu ver, um forte indício de “miopia”. E não foi o
próprio Calvino quem sugeriu usarmos as escrituras como óculos para vermos e
lermos o mundo através de suas páginas: “Pois,
assim como os olhos, ou toldados pela decrepitude da velhice, ou entorpecidos
de outro defeito qualquer, nada percebem distintamente, a menos que sejam
ajudados por óculos, de igual modo nossa insuficiência é tal que, a não ser que
a Escritura nos dirija na busca de Deus, de pronto nos extraviamos totalmente.”
(As Institutas, Vol I, Edição Clássica - Latim).
10) “... e aceitar de fato palavra
de Deus.” – Enfim, chegamos a um ponto de convergência, a partir do
qual, quer Calvinistas, quer Arminianos, quer Pentecostais, quer Tradicionais,
devermos todos pautar nossas vidas, nossas escolhas, nossas convicções (acho
que foi este o termo que o irmão quis usar, Rô) reduzindo a refugo toda e
qualquer pretensão de conhecimento humano: “Porque
a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de
dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e
medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração. E não
há criatura alguma encoberta diante dele; antes todas as coisas estão nuas e
patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar.” (Hb 4.12-13), ou: “Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre
pelo seu bom trato as suas obras em mansidão de sabedoria. Mas, se tendes
amarga inveja, e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem
mintais contra a verdade. Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é
terrena, animal e diabólica. Porque onde há inveja e espírito faccioso aí há
perturbação e toda a obra perversa. Mas a sabedoria que do alto vem é,
primeiramente pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia
e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia. Ora, o fruto da justiça
semeia-se na paz, para os que exercitam a paz.” (Tg 3.13-18).
Isto posto, peço perdão sincero se pareci rude em minhas considerações, mas, até
nisto busquei agir conforme nos orienta a Escritura: “Por isso deixai a mentira, e falai a verdade cada um com o seu
próximo; porque somos membros uns dos outros.” (Ef 4.25).
No Amor de Cristo,
Prossigo para o Alvo... Fp 3.14
P.S.: A irmã Rô Moreira é editora do Blog Mulheres Sábias ou apenas Blog da Rô; O irmão Gutierres Siqueira citado neste post é editor do Blog Teologia Pentecostal; O irmão Clóvis Gonçalves também citado neste post é editor do Blog Cinco Solas; todos recomendados por este Blog.
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