 |
Caetano Veloso conversa com Jean Wyllys; ao fundo, Preta Gil fala com Marcelo Freixo na sede da ABI Pedro Kirilos / Agência O Globo
|
Desconstruindo
a fala deste senhor compositor baiano intelectual – ou não – acerca do que é –
ou não – a democracia.
“Não é admissível que essa
Comissão de Direitos Humanos e de Minoria esteja sendo dirigida e presidida por
um pastor que expressou nitidamente a intolerância, tanto da ordem sexual como
racial. É fato conhecido e notório. Esse é um momento que nós deveríamos estar
reunidos para tentar defender o que significa ter um Congresso. Porque o maior
perigo é levar o povo brasileiro a desprezar esse nível do exercício do Poder
Legislativo. Isso pode criar uma má impressão do que é democracia.” Caetano
Veloso (Por ocasião de um ato
realizado no auditório da Associação Brasileira de Imprensa – ABI para pedir a
saída do deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) da presidência da Comissão
de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados).
“Não
é admissível...” – Ora, em um estado democrático e de direito,
desde que NÃO ao arrepio da Lei, SIM, quase tudo é admissível. Daí a razão e da
necessidade de um Congresso (ou Parlamento, como queiram) onde representantes
do povo, eleitos pelo povo, e para o povo, possam propor, debater, aprovar,
alterar, e o que mais a Lei permitir, em prol do bem estar e da paz social. “Nenhum governo pode governar a partir da
vontade de particulares” (Jean Jacques Rousseau).
“Que
essa Comissão...” – Ora, se fosse "outra Comissão”, onde a patuscada gay não
fosse o tema de maior importância - quem sabe uma CCJ da vida, aí tudo bem? Quem afinal pode determinar
qual ou quem dentre os parlamentares do Legislativo Federal está qualificado
para o cargo de presidente de uma Comissão, a ABGLT? A ABI? A revista EXAME?
“Sendo
dirigida e presidida por um pastor...” – Ora, se fosse por um Pai-de-santo tudo
bem? Por um Kardecista; por um Agnóstico; por um Ateu; por um Hare Krishina? Só
por um pastor é que não pode? Afinal, se democracia ("demo+kratos") é
o poder (governo) do povo, pelo povo e para o povo, então PASTOR não é povo?
Não é gente? Não é cidadão? Ou não passa de um ser de segunda categoria,
ignorante, intransigente, intolerante como quer fazer acreditar esse senhor?
“Que
expressou nitidamente...” – Caramba! E desde quando expressar [o pensamento] é
crime? Desde quando deram ao senhor CV o poder de decidir quem pode e o que
pode pensar neste país? Justo ele que por anos “nos fez” crer que “O pensamento parece uma coisa à toa, mas
como é que a gente voa quando começa a pensar”. Não teria o pastor MF,
pensado – alto, diga-se de passagem – uma coisa à toa, e voado um pouco além
dos limites do “arco-íris”? Ainda assim, seria apenas, e tão apenas o livre
exercício constitucional (Art. 5º, IV) da manifestação do pensamento.
“A
intolerância...” – Aqui eu já poderia parar. Vejam só o que nos diz Sua Sapiência
a Wikipédia acerca deste termo: “Intolerância é uma atitude mental
caracterizada pela falta de habilidade ou vontade em reconhecer e respeitar
diferenças em crenças e opiniões.” Consegue o leitor perceber alguma semelhança
na fala do senhor CV ou de seus párias, digo, pares, ou seria “mera
coincidência”. Quem não consegue respeitar o livre exercício do direito alheio,
ainda que dele discorde e contra ele proteste, não é digno de falar de
INTOLERÂNCIA. Basta vermos no que “eles” estão transformando o recinto de
trabalho daquela Comissão.
“Tanto
da ordem sexual como racial...” – Ora, não me recordo de ter visto, lido, ou
ouvido que o senhor MF tivesse deixado de atender – no âmbito de suas funções
parlamentares –, trabalhar, pagar, deixar passar, viver, ou qualquer outra ação
própria das liberdades individuais e coletivas, a quem quer que seja, simplesmente
pelo fato de ser homem, mulher, gay, preto, branco, índio, pardo... O que neste
caso, seria um grave crime.
“Nós deveríamos estar
reunidos...” – Gostei da proposta constitucional do senhor CV, que remete,
novamente, ao Art. 5º da CF/88: “XVI - todos podem reunir-se pacificamente,
sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde
que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local,
sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente”. Esta aí uma coisa
que o senhor CV deveria ter lembrado aos seus mais de 200 amigos, que se
manifestaram de forma agressiva, com cartazes, faixas e gritos de ordem, em
frente à porta da Igreja Assembleia de Deus - Catedral do Aviamento em 11 de
março, numa tentativa clara de frustrar a realização de um Culto Religioso,
violando o princípio constitucional da liberdade de consciência e crença e da
inviolabilidade e proteção do local de sua realização: “Art. 5º, VI - é
inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre
exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos
locais de culto e a suas liturgias”.
“Para tentar defender o que
significa ter um Congresso...” – Mais uma vez faltou ao senhor CV discernimento – quero crer que não seja de conhecimento – do papel do Congresso, qual seja: representar
o POVO – no sentido mais amplo da palavra – e legislar pela causa nacional. Ora
o povo ou nação não se constitui apenas de “minorias gays ou plurais”, o povo
está para negros e brancos, gays e héteros, pastores e ateus, e todos estes, quer
gostem ou não, estão representados na figura dos 513 deputados federais eleitos
democrática e legitimamente, respeitado o sistema eleitoral brasileiro. Simples
assim! Não existe “CONGRESSO PARALELO”.
“Porque o maior perigo é
levar o povo brasileiro a desprezar esse nível do exercício do Poder
Legislativo.” – SIM, estamos diante de um estado (conjuntura) perigoso das
coisas. Mas o que se vê pelas ruas é bem diferente, para exemplificar, daquelas
manifestações pelas eleições diretas: o repúdio pelo sistema político, pelo cerceamento
dos direitos e garantias fundamentais, pela liberdade de expressão em toda sua
plenitude. O que se vê é justamente o contrário: uma luta calcada em "pseudos" direitos e garantias
constitucionais visando cercear direitos e garantias constitucionais... O rabo correndo atrás do cachorro. A calda engolindo a cobra!
“Isso pode criar uma má
impressão do que é democracia.” – Se este trecho da fala do senhor CV fosse
recortada e apresentada fora do contexto – como costumam fazer alguns – eu
diria que ele estava discursando contrariamente aos seus irmãos e irmãs de
causa – “ou não”.
"Não se avexe não, baião de dois, deixe de manha, deixe de manha", porque "esse papo [seu] tá qualquer coisa e você já tá pra lá de Teerã."
Prossigo (sem dúvidas) para o Alvo... Fp. 3.14